"Amem-se uns aos outros,assim como eu vós amei Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos" (joão 15,12-13)
Ao escrever este texto,quero dar um testemunho pessoal e também de solidariedade aos agentes e militantes da Pastoral da Criança(PACRI).
Quero dizer que não gosto de escrever sobre acontecimentos tristes ou trágicos,mas a vida nos leva e faz escrever,falar sobre estes acontecimentos.
Na última terça-feira 11 de janeiro,ficamos abalados com o cismo que atingiu e destruiu um dos países mais pobres do mundo e das Américas,onde um rico haitiano é considerado como o mais pobre do Brasil,segundo dados do F.M.I, Banco Mundial e o CEPAL.
Entre as milhares de vitimas pobres deste pequeno pais caribenho estava 20 brasileiros,militares da força de paz da ONU,e dois civis Luís Carlos da Costa da ONU e dona Zilda Arns Neumann de 73 anos,médica pediatria e sanitarista,fundadora da Pastoral da Criança da CNBB,da Pastoral de los Niños Internacional e da Pastoral do Idoso da CNBB.
Não conheci pessoalmente dona Zilda irmã de Dom Paulo Evaristo Arns,Cardeal Arcebispo hémerito de São Paulo,candidato a "papavel" e a "premio Nobel da Paz",pela sua defesa dos direitos humanos;como milhares de brasileiros,a conhecia pela mídia,enquanto a Pastoral da Criança conheço pessoalmente o seu trabalho e a dedicação de seus voluntários,em salvar vidas de milhares de crianças da desnutrição e de doenças que podem ser evitadas com atitudes simples e que ainda mata no mundo.
A Pastoral da Criança nasce em setembro de 1983,no município de Florestópolis(PR),um dos mais pobres deste estado na área da Arquidiocese de Londrina,cuja fonte de renda vinha do trabalho dos bóias frias,principalmente do trabalho temporario e de diarista,destes trabalhadores que trocavam vale por comida no único super mercado da cidade que pertencia a empresa em que trabalhavam,os filhos destes trabalhadores sofriam de desnutrição e muitos morriam antes de um ano de idade.Dona Zilda e Dom Geraldo Magella Agnelo arcebispo de Londrina,iniciam este trabalho com alguns professores municipais.
A obra iniciada por Zilda no inicio teve restrições dentro da Igreja,que via o trabalho como mero assistencialismo e que tirava a responsabilidade dos governos,em resolver o problema da fome,miséria e a pobreza.
Dona Zilda seguiu o conselho de Jesus,quando multiplicou os pães e os peixes:"Vocês que têm que lhes dá de comer''(Mc 6,34-44),ela falava que devemos ensinar a pescar e não simplesmente dar o peixe.Dar o peixe é cair no assistencialismo e perpetuar a pobreza e a miséria,faz com que o pobre seja objeto e não sujeito de sua transformação.
Temos visto agentes da PACRI,atuando nos bairros,vilas,favelas das pequenas cidades do interior as megalopoles, no campo nas comunidades carentes,como acampamentos e assentamentos,onde o poder público se nega a atender.
São 240 mil voluntários,80% mulheres pobres que atendem 1,6 milhões de crianças pobres. Com um trabalho simples estes agentes salvam vidas como o soro caseiro,aproveitamento de alimentos,multimistura,ensinando as mães e explicando o porque a lavar as mãos antes e depois das refeições, dar banho nas crianças, a pesagem,sopão,cursos de alfabetização aos pais das crianças atendidas,no combate a desnutrição,mortalidade infantil,marginalidade social e por políticas públicas.
Muitas destas agentes visitam as familias mensalmente,alguns casos diariamente e semanamente.
Não é atoa que hoje a Pastoral da Criança se encontra em 27 paises da América, África, Oceania,como em Timor Leste,atraves da Pastoral da Criança Internacional. Dona Zilda poderiá entrar no roll dos santos e santas canonizadas pela Igreja,principalmente num mundo em que falta testemunhos e numa Igreja em que falta santos comprometidos com a vida humana e de cristãos que sejam testemunhas vivas do Amor de DEUS,como foi em vida Zilda Arns e milhares de agentes de nossas pastorais sociais,comprometidos de fato com o Evangelho de Jesus e com o Reino de DEUS.
Na Igreja Primitiva e em alguns casos os santos eram aclamados pelo povo,como mártires e imediatamente a hierarquia os declarava santos.
Dona Zilda cumpriu este requisito da Igreja de ser missionária e mártir,morreu mártir junto a milhares de haitianos pobres e deu testemunho de FÉ ao salvar milhares de vida ameaçadas como médica e sanitarista.
Nestes tempos de espiritualidade e fé intimista,de cada "um por si e Deus por todos'',dona Zilda nos dá o testemunho de uma fé e espiritualidade comprometida com os pobres.
Dona Zilda é um destes anjos bons do povo brasileiro,e uma destes santos e santas de Deus que vale ficar na memória do povo cristão,junto com os mártires Santo Dias da Silva, Pe. Josimo Tavares, Pe Reinaldo santos brasileiros de sangue e coração.
Júlio Lázaro Torma * militante da Pastoral Operária da Diocese de Pelotas/ RS