quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A SEMENTE

Um homem trabalhava em uma fábrica distantecinqüenta minutos de ônibus da sua casa.
No ponto seguinte entrava uma senhora idosaque sempre sentava-se junto à janela.
Ela abria a bolsa, tirava um pacotinho e passava a viagem toda jogando alguma coisa para fora.
A cena sempre se repetia e um dia, curioso, o homem lhe perguntou o que jogava pela janela.
- Jogo sementes, respondeu ela. - Sementes? Sementes de que? - De flores. É que eu olho para fora e a estrada é tão vazia... Gostaria de poder viajar vendo flores coloridas por todo o caminho.Imagine como seria bom!
- Mas as sementes caem no asfalto,são esmagadas pelos pneus dos carros,devoradas pelos passarinhos... A senhora acha mesmo que estas sementes vão germinar na beira da estrada? - Acho, meu filho.

Mesmo que muitas se percam,algumas acabam caindo na terra e com o tempo vão brotar. - Mesmo assim... demoram para crescer, precisam de água... - Ah, eu faço a minha parte. Sempre há dias de chuva.
E se alguém jogar as sementes, as flores nascerão. Dizendo isso, virou-se para a janela aberta e recomeçou seu trabalho.
O homem desceu logo adiante,achando que a senhora já estava senil.
Algum tempo depois...Um dia, no mesmo ônibus, o homem ao olhar para fora percebeu flores na beira da estrada...Muitas flores... A paisagem colorida, perfumada e linda! Lembrou-se então daquela senhora.
Procurou-a em vão. Perguntou ao cobrador, que conhecia todos os usuários no percurso. - A velhinha das sementes? Pois é... Morreu há quase um mês. O homem voltou para o seu lugar e continuou olhando a paisagem florida pela janela."Quem diria, as flores brotaram mesmo", pensou! "Mas de que adiantou o trabalho dela? Morreu e não pode ver esta beleza toda". Nesse instante, ouviu risos de criança.
No banco à frente, uma garotinha apontava pela janela, entusiasmada: - Olha, que lindo! Quantas flores pela estrada...Como se chamam aquelas flores? Então, entendeu o que aquela senhora havia feito.
Mesmo não estando ali para ver,fez a sua parte, deixou a sua marca,a beleza para a contemplação e a felicidade das pessoas.
No dia seguinte, o homem entrou no ônibus,sentou-se junto à janela e tirou um pacotinho de sementes do bolso...
E assim, deu continuidade à vida, semeando o amor,a amizade, o entusiasmo e a alegria.

O futuro depende das nossas ações no presente.

"E se semeamos boas sementes, os frutos serão igualmente bons.

"Vamos semear nossas sementes agora!

(Autoria Desconhecida)



quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A Lua e o Sol

A lagoa calma e serena reflete os raios de um sol tímido de outono.
Pessoas transitando, crianças brincando, jovens praticando esportes e a lagoa apresentando um espetáculo de cores, como se um arco-íris estivesse se banhando nela.
A maioria das pessoas estavam alheiasà exposição da natureza.
O sol revelando seus mais íntimos segredos,a lagoa,que é seu pombo-correio em seu romance com a lua, ficava lançando raios multicores,banhado na emoção de seus mais puros sentimentos.
E nós ganhando um lindo espetáculode vida e amor,onde a lua de longe,escondida,ficava a observar seu amado,
que no meio de suas confidências transmitia paz aos corações de quem ama.
A lua e o sol encontram-se apenas por instantes,
mas já habituados a isso,vivem tão intensamente seus momentos, que este amor ultrapassou a barreira do tempo e do espaço,radiando brilho e luz, vão inspirando nossas vidas.

Autora: Marcia Oliveira

Essa autora além de possuir uma sensibilidade enorme é uma amiga e tanto.

Adoro ela!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Para onde estamos fugindo?

Leonardo Boff*

Uma das características principais do atual momento é a aceleração do tempo. O espaço terrestre, praticamente, já o conquistamos. Mas, o tempo continua sendo o grande desafio: poderemos dominá-lo? A corrida contra ele se dá em todas as esferas, a começar pelo esporte. Em cada olimpíada busca-se superar todos os tempos anteriores, especialmente na clássica corrida dos cem metros. Os carros devem ser cada vez mais velozes, os aviões e os foguetes têm que superar a velocidade da geração anterior. No agronegócio se utilizam promotores químicos de crescimento para encurtar o tempo e lucrar mais. A internet é de altíssima fluidez e sem cabos, pois, para ganhar tempo, tudo é feito via satélite E a aceleração atingiu especialmente as bolsas. Quanto mais rapidamente se transferem capitais de um mercado para outro, acompanhando o fuso horário, mais se pode ganhar. Como nunca antes "tempo é dinheiro".
Logicamente, em todo esse processo há um elemento libertador, pois o tempo foi, em grande parte, vivenciado como servidão. Não podemos detê-lo. Por outro lado produz um impacto sobre a natureza que possui seus tempos e ciclos. O impacto não é menor sobre as mentes das pessoas que se sentem atordoadas, particularmente as mais idosas, perdendo os parâmetros de orientação e de análise daquilo que está ocorrendo no mundo e com elas mesmas.
Vale a pena essa irrefreável corrida? Para onde estamos fugindo?
Ai daqueles que não se adaptam aos tempos. Em termos de trabalho são ejetados do mercado, pois suas habilidades ficaram obsoletas. Os que se resignam, perdem o ritmo do tempo e são considerados precocemente envelhecidos ou simplesmente retardatários. Isso pode ocorrer com países inteiros que não incorporam os avanços da tecno-ciência. Todos são obrigados rapidamente a se modernizar e a ser emergentes.
Para onde nos levará essa corrida contra o tempo? Ele sempre nos ganha, pois não podemos congelá-lo. Ele simplesmente passa devagar ou acelerado como nos grandes túneis de aceleração de partículas.
Mas importa considerar que há tempos e tempos. O tempo natural do crescimento de uma árvore gigante pode demorar 50 anos. O tempo tecnológico de sua derrubada com a moto-serra pode durar apenas 5 minutos. De quanto tempo precisamos para crescer em maturidade, sabedoria e conquistar o próprio coração? Às vezes uma vida inteira de 80 anos é curta demais. O tempo interior não obedece ao tempo do relógio. Precisamos de tempo para trabalhar nossos conflitos interiores que às vezes nos obrigam a parar.
Uma reflexão do mestre zen Chuang-Tzu de 2.500 anos atrás nos parece muito inspiradora. Ele conta que havia um homem que ficava tão perturbado ao contemplar sua sombra e tão mal-humorado com suas próprias pegadas que achou melhor se livrar de ambas. O método foi o da fuga, tanto de uma, quanto da outra. Levantou-se e pôs-se a correr. Mas sempre que colocava o pé no chão aparecia a pegada e a sombra o acompanhava sem a menor dificuldade.
Atribuiu o seu erro ao fato de que não estava correndo como devia. Então, pôs-se a correr velozmente e sem parar, até que caiu morto por terra. O erro dele, comenta o Mestre, foi o de não ter percebido que, se apenas pisasse num lugar sombrio, a sua sombra desapareceria e caso ficasse parado, não apareceriam mais suas pegadas.
Não é isso que hoje se impõe fazer? Dar uma parada? Aqui reside o segredo da felicidade e da ansiada paz interior.


*Teólogo e professor emérito de ética da UERJ