Como seria tão fácil não ser humano, meu Deus!
Não ter que sentir a dor da distância e da saudade.Como seria fácil amar sem limites,pensar que poderíamos fazer do tempo e do espaçoa possibilidade de ser mais intensos e imortais.
Não ter que buscar palavrasimpossíveis de expressar o essencialsem ao menos, submeter-se ao medo,à vergonha...Como seria fácil ser fracopara sentir-se dentro de tudo.Não ter que se esconder – do confronto –para não dizer que se é vulnerável...
Devo estar – há muito tempo – longe do Mar.Sinto falta do seu cheiro,de pisar suas ondas que,eternamente, vão e vem...Saudades do desenho – imagem – da luaque, na noite, dança extasiada por suas águas...
Ali, onde a liberdade parece consumir o mundo,sem que ninguém nada perceba...Ali onde a verdade de cada coisaparece se escancarar...
Pensar em ti, ó Mar,é reconhecer que tú precisas de mim...é reconhecer que eu preciso de ti...
E nessa humana dependênciadou razão de ser à tuas ondas.E elas, a meus pés que caminham descalçosentre tantas verdades sentidas...
Não posso renunciar a essa dependênciaque me faz assemelhar-me a ti.
Não posso desejar o que não é parte de mim,sob o perigo de perder-meno esquecimento da tua solidão...
Preciso voltar a ser criançapara desejar sempre pisaro infinito desconhecido desta vida...Sem medos,Sem vergonhas,Sem facilidades...
Preciso renunciar ao que me torneipara ser apenas o que sou...
José Wilson, sj
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